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Mostrando postagens de abril, 2020

Por que ler S. Bernado, de Graciliano Ramos?

Criado por uma negra doceira, Paulo Honório foi um menino órfão que guiava um cego e vendia cocadas durante a infância para conseguir algum dinheiro. Depois começou a trabalhar na duro na roça até os dezoito anos. Nessa época ele esfaqueia João Fagundes, um homem que se envolve com a mulher com quem Paulo Honório teve sua primeira relação sexual. Então é preso e durante esse período aprende a ler com o sapateiro Joaquim. A partir de então ele passa somente a pensar em juntar dinheiro. Saindo da prisão, Paulo Honório pega emprestado com o agiota Pereira uma quantia em dinheiro e começa a negociar gado e todo tipo de coisas pelo sertão. Assim, ele enfrente toda sorte de injustiças, fome e sede, passando por tudo isso com muita frieza e utilizando de meios antiéticos, como ameaças de morte e roubo. Após conseguir juntar algumas economias, retorna a sua terra natal, Viçosa, com o desejo de adquirir a fazenda São Bernardo, onde tinha trabalhado. Para tanto, Paulo Honório inicia uma a

DEVOLVA MINHA ALMA

Tereza espreguiçou-se. Um raio de sol em seu rosto avisava que a muito já tinha amanhecido. E insistentemente tentava acordá-la, avisando que lá fora o domingo pedia um passeio. Era preciso olhar a rua, ver o céu sem nuvens, o vai e vem das pessoas. Ela puxou o lençol e bloqueou a claridade do sol que entrava por um pequena brecha na janela. O quarto estava meio claro, meio escuro, dando a sensação de nem noite e nem dia. Era assim que ela gostava: saber que era dia, mas continuar dormindo. Virou para o outro lado da cama e se embrulhou dos pés à cabeça. Apesar de estar um dia ensolarado ela sentia muito frio.  O lençol agora bloqueava o sol. O cheiro de carne frita que vinha da cozinha era impossível bloquear. E ela ficou sentindo o aroma da carne sendo frita ao mesmo tempo em que ouvia o chiado da panela de pressão. Provavelmente, estavam cozinhando feijão. Por mais de uma vez ela quis levantar. Suas pernas estavam sem força e ela sem nenhuma disposição. Não sabia o que est

DOIS MUNDOS

A vida é um livro gigante de personagens já prontos. Quando nasce uma nova criança, um perfil para ela já está escrito. Vai estudar para ter um bom emprego e construir uma família. E existe uma grande retaliação contra as pessoas que se negam a seguir esse roteiro pré-existente. São consideradas estranhas. Perversas. Abominação. Quem nunca ouviu falar de uma tragédia tendo como vítimas mulheres, gays, negros, bruxos...? E o que essas pessoas fizeram foi apenas tentar fugir do roteiro de vida imposto a elas.  A sociedade há séculos aprendeu olhar apenas para frente, e isso não é uma metáfora para indicar que o olhar está voltado para o futuro. Não. Olhar para frente, no sentido literal, ignorando tudo o que está fora do campo de visão. E abominando o que ainda não compreende. Tudo o que não se pode ver e muito menos explicar, a sociedade condena. Por medo, talvez. Ou por arrogância. Quando eles não sabem sobre algo dizem simplesmente que não existem. E essa explicação deve bast

PERFIL, de Daniele Pereira / Nilson Rutizat

https://www.amazon.com.br/dp/B086RZYY5G/ref=cm_sw_r_wa_awdo_t1_VVBIEbNZSD88S Estamos a cada dia mais familiarizados com a internet. E já não estranhamos em sermos convidados a acessar o perfil de uma pessoa, empresa ou organização. Isso é tão comum que até desconfiamos das empresas que não têm perfil em uma rede social. Mas não falamos isso em tom de crítica, citamos apenas como exemplo de uma mudança de comportamento e organização da sociedade no século XXI. Quer pegar um carro, chama um UBER. Se é comida o que queres, peça no IFOOD. Se quer conhecer alguém, siga-o no Instagram. Quer bater um papo, chame a pessoa no WhatsApp. E nem se atreva a comprar CD. Se quer ouvir música, escolha uma plataforma de streaming: Spotify, Youtube... e onde ver filmes? Netflix, Youtube, Amazon, Telecine... a maneira de consumir cultura mudou com a internet, o que não é diferente com os livros. Assim como serviços, filmes e músicas, os livros podem ser comprados e lidos na internet, em si

É PRECISO ESQUECER

Sentei-me na sala em frente a tevê. Tinha acabado de chegar em casa e o sono ainda não tinha chegado em mim. No celular, uma mensagem de minha namorada perguntando se eu tinha chegado bem. A intenção da mensagem, no entanto, era saber se de fato eu teria chegado em casa. Eram três anos de namoro e eu conhecia muito bem os truques de Amália. Respondi com um vídeo que estava bem. Saber que eu estava em casa evitaria que ela ficasse conversando toda a madrugada. Eram quase 3 horas da manhã e eu só queria ficar sozinho.  Coloquei o celular sobre o braço do sofá e voltei à tevê, passei todos os canais e nada de interessante. Ainda pensei em assistir a alguma coisa na Netflix, mas com certeza eu dormiria. Acabei por concluir que não era uma boa ideia. Deitei-me então no sofá e fiquei vendo as fotos daquela noite de sábado com a galera. Amália parecia muito feliz, tinha conversado e sorrido bastante. E sempre que algum conhecido dela aparecia que eu ainda não tinha conhecido pessoalm