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Mostrando postagens de setembro, 2019

PESADELO

                           Acordei sobressaltado. Pulei da cama como se estivesse fugindo de alguém, não sei. Se era um pesadelo, eu não me lembro. Mas estava com a boca seca. E a única coisa que me veio à mente naquele momento foi ir até a geladeira e beber um copo de água bem gelada. Andei em direção à porta, mas não sabia o que estava acontecendo, a cada passo que eu dava mais a porta se distanciava de mim. E a sede aumentava.   Meus lábios doíam de tão secos. Eu corri. E a porta se distanciou mais ainda. Decidi me sentar e esperar. Ao fazer isso a porta se aproximou de mim como se fosse uma pessoa e ficou me observando. E foi se abrindo vagarosamente, rangendo no ritmo da minha respiração. Fechei os olhos.             Minhas pálpebras pareciam transparentes, pois ao fechar os olhos via a porta se abrir com mais nitidez e meus ouvidos captavam com mais ênfase o ranger daquela fechadura. Enferrujada? Não sei. Fiz a única coisa que podia. Gritei. Mas a voz falhava e meus

POEMA INESPERADO, Nilson Rutizat

E aqui estou vivendo esse dilema na prova do concurso para professor,  profissão que exerço com amor,  mas passar no concurso é o problema. A prova já terminei, mas ainda não posso sair, duas horas ainda tenho que esperar se quiser a prova daqui levar para depois o gabarito conferir. Os ficais de sala daqui já estão de olho em mim, passam e me olham preocupados por me ver escrever assim, acham que serão enganados. Os demais candidatos, no entanto,  parecem nada perceber. Estão todos concentrados na prova, nada mais querem ver, e lá fora da sala está nublado, e com certeza vai chover. Como é difícil num concurso passar, por isso vou voltar à prova e de novo as questões analisar,  e se eu for aprovado prometo nesse momento, calado, esse texto publicar.  (Poema feito durante aplicação da prova objetiva do Concurso Público para professor da Paraíba, 2019. Eram ofertadas cinco vagas para professor de Língua Portuguesa, a min

Quinze minutos

Não aprendem. Não adianta explicar, esses alunos nunca aprendem. São palavras repetidas diariamente por professores. Eles sentam-se em uma sala minúscula, quente e barulhenta por quinze minutos, durante o intervalo. O que deveria ser um momento de descanso para eles, torna-se um momento de agonia. Vozes, vozes, vozes e mais vozes disputam o ambiente numa tentativa vã e esforçada de serem ouvidas. Quem nesse momento passa por ali não imagina que naquele cubículo quente e barulhento estão os professores em seu momento de "descanso". NÃO APRENDEM. NÃO ADIANTA EXPLICAR, ESSES ALUNOS NUNCA APRENDEM. Não se houve, no entanto, uma discussão que visem à resolução do problema, não se discute o que deve ser mudado, acrescentado ou retirado para que os alunos voltem ou comecem a aprender. As vozes não se cansam, nunca cessam. Muda-se o assunto, o aluno que nunca aprende sai de foco e os gritos agora falam de tragédias, salários, medos e tudo o que vier a mente perturbada daqueles tr

E ISSO É AMOR? Daniele Pereira, Nilson Rutizat.

De novo essa conversa? Eu fiz tudo por você. Não sabe ainda que o amor é feito de sacrifício? Se me amas mesmo precisa abrir mão de suas amigas. Não consigo dividir sua atenção, nem seu sorriso, nem suas palavras, nem o seu tempo. Antes você não questionava. Agora, vive com essa conversa de direitos iguais, de dizer que quem ama deixa livre. Não! Eu não aceito. Você é minha e de mais ninguém. Se não me aceita assim, não terás o meu amor. Como lhe disse, o amor requer sacrifício. E aí, você me ama? Como pode requerer de mim tal punição? Não percebes que machuca minha alma ao questionar o meu amor? Provoca-me ao ponto de deixar claro que terei que escolher? Você me deixa nessa angústia constante e trata-me como um objeto, como se eu fosse o seu troféu. Sente ciúmes até da roupa que toca a minha pele, dos olhares que às vezes nem percebo e me pune, como se eu merecesse tal castigo. Antes eu aceitava todos os seus devaneios, não deixava transparecer, porém hoje percebo que quem a

PRESENTE DE GREGO

Quantas vezes no decorrer do dia me vem o desejo de ser mudo. Calar diante de algumas situações é algo muito difícil para mim, pois consigo ver coisas que a casca do ser humano não mostra. E isso é muito difícil. Pode sim existir belíssimos seres humanos por baixo de cascas, mas também existem verdadeiros monstros revestidos de encantadores papéis de presente. Deve ser por isso que ouvimos ditados como "lobos em pele de cordeiro" ou "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço". Tais ditados já deixa claro que o ser humano, muito deles, apresenta essa contradição entre a casca e o conteúdo. E é justamente por conseguir perceber essa contradição que também, em muitas vezes, eu quero ser surdo. É melhor não ouvir certas coisas, pois se ouvirmos seremos instigados a falar. Se não posso falar também não quero ouvir. É intragável certas palavras de muitas pessoas, pois refletem justamente o que mais odeio na vida: o cinismo e hipocrisia.