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E ISSO É AMOR? Daniele Pereira, Nilson Rutizat.



De novo essa conversa? Eu fiz tudo por você. Não sabe ainda que o amor é feito de sacrifício? Se me amas mesmo precisa abrir mão de suas amigas. Não consigo dividir sua atenção, nem seu sorriso, nem suas palavras, nem o seu tempo. Antes você não questionava. Agora, vive com essa conversa de direitos iguais, de dizer que quem ama deixa livre. Não! Eu não aceito. Você é minha e de mais ninguém. Se não me aceita assim, não terás o meu amor. Como lhe disse, o amor requer sacrifício. E aí, você me ama?
Como pode requerer de mim tal punição? Não percebes que machuca minha alma ao questionar o meu amor? Provoca-me ao ponto de deixar claro que terei que escolher? Você me deixa nessa angústia constante e trata-me como um objeto, como se eu fosse o seu troféu. Sente ciúmes até da roupa que toca a minha pele, dos olhares que às vezes nem percebo e me pune, como se eu merecesse tal castigo. Antes eu aceitava todos os seus devaneios, não deixava transparecer, porém hoje percebo que quem ama cuida e deixa livre, pois viver da forma que você quer não é amor e sim egoísmo.
Novamente essa conversa. Você se sente a maior vítima da terra. Sente-se como uma rosa colhida no jardim sem água para refrescar suas pétalas. Depois que essas suas amigas apareceram em sua vida, o que ouço de você constantemente é liberdade, liberdade e mais liberdade. Não vê, amor, estamos nos perdendo? Você não aceita mais o seu papel de mulher casada. Lembro-me quando no altar jurou-me fidelidade e disse que estaria ao meu lado, sempre. Mas não te reconheço, sinto que àquela menina não mais existe. Você quer voar e se eu te deixar fazer o que queres, o nosso amor já era. Não percebes que estou cuidando da gente. Escolha o nosso amor. Escolha as nossas regras.
Em momento algum fujo de minhas obrigações, sou fiel a você e ao nosso voto e minhas amigas não são as culpadas do nosso casamento está assim, você é o único culpado. Entreguei-me de corpo e alma a esse relacionamento que agora se torna tóxico. Sou sua e sempre serei, mas a menina pela qual você se apaixonou não existe mais, ela cresceu, evoluiu, criou asas e quer voar. Por tantas vezes perdoei sua grosseria, sua forma machista de ver a nossa relação... Não! Não suporto mais viver assim. Se eu escolher “as nossas regras” que são apenas suas, serei prisioneira desse amor que um dia me libertou. Se me amas, se realmente me amas como dizes, escolhes a mim e me deixa fazer o que quero.
Está vendo o que me obriga a fazer? Nunca pensei em tocar assim em você. A culpa é sua! Não sabes que isso não cabe na gente. Estávamos tão bem, mas tinha que trazer para o nosso relacionamento essas teorias feministas. Eu não queria ter feito isso. Mas você me obrigou. Suas atitudes não me deixaram escolha. E a agora, veja como está seu rosto? Eu nunca vou lhe perdoar por ter me feito fazer isso. Nunca queria ter esmagado essa rosa que perfuma meus dias. Eu nunca quis isso. Perdoe-me. Sabes que nos amamos.
Jamais pensei que as mãos suaves que acariciavam meu corpo e que me proporcionaram tanto prazer fossem capazes de provocar tamanho martírio, deixaram marcas. Sinto-me violentada e amargurada como um animal que teve sua pele marcada pelas iniciais do seu dono. A fisionomia mudou, estava agressivo, sua voz tornou-se rouca, rancorosa.  Rapidamente veio em minha direção, senti pavor, levantou a mão, não tive reação, fui golpeada com tanta força que aos poucos fui perdendo os sentidos. Não pedi que parasse, não pude falar, a voz não saia e a cada "toque violento” o meu eu não queria acreditar, as lágrimas corriam como um rio, puro e reluzente. Caí. Não me lembro do que aconteceu depois. Só sei que acordei na cama, e o pior é que depois do ato, depois de me fazer sentir a pior das criaturas, beijou-me, abraçou-me e dormiu, fazendo parecer que eu era a culpada. Meus olhos doces tornaram-se amargos. Não consigo mais permanecer perto do meu carrasco. Fui avisada de que um dia o desejo de posse, o ciúme obsessivo iria me trazer uma dor insuportável, mas jamais pensei que doeria tanto...
Não suporto! É demais para mim. Meu corpo tem marcas que o tempo fará desaparecer, mas da minha alma jamais, jamais conseguirá apagar. Tenho que tomar uma atitude: Fugir...fugir é a minha solução, com dificuldades tento sair da cama, pego uma bolsa qualquer e um casaco, apenas isso. Tenho que ser rápida, tenho que sair. Fecho a porta, pego as chaves do carro, mas estou nervosa demais para dirigir. Se eu ficar será o meu fim. Eu não posso dirigir, mas posso andar, terei que fugir da forma que eu conseguir, irei para longe, o mais longe que eu puder.
Eu preciso que me escute. Por favor, onde está o delegado? Ela se foi. Seu delegado, ela se foi, a minha amada não está mais aqui. Por favor, prenda-me. Eu juro que eu não queria fazer isso, mas ela estava fugindo e não quis voltar quando gritei pelo seu nome. Então, eu corri até ela e a segurei pelo braço. Ela me olhou de um jeito que nunca tinha me olhado, de um jeito que partiu minha alma. Eu me ajoelhei e  pedi que ela ficasse, mas ela só queria fugir. Eu não queria isso, prenda-me! Castigue-me! Eu matei a mulher da minha vida. Eu perfurei seu corpo lindo com aquela faca suja. Ela não se mexe mais. Está morta! Eu não queria isso. O que eu fiz? Eu a amo, seu delegado. Mas agora ela está morta. Minha alma também morreu. Prenda-me, por favor, e não me deixe mais sair. Eu não quero viver no mundo sem ela.

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