Quem é professor ou quem trabalha na educação sabe o quanto a indisciplina pode atrapalhar o aprendizado dos estudantes e o nosso trabalho. E não me venha dizer que o professor precisa se reinventar ou algo do tipo, a indisciplina é uma realidade em sala de aula. A maneira como os estudantes, não todos, enxergam o professor, assusta. É que estamos diante de uma visão de educação em que o estudante tudo pode e o professor não tem nenhum direito.
Isso ocorre, na maioria das vezes, pela falta de princípios como respeito e a empatia. Você que estar lendo meu texto agora pode achar que eu sou tradicional, não é isso. No entanto, existem comportamentos e valores que são atemporais, o professor é um profissional que está em sala de aula para conseguir ganhar seu dinheiro e levar sustento para sua casa. E se todos os profissionais precisam e devem ser respeitados, por que o professor não?
Bem, mas não é para discutir a falta de valorização do professor que estou escrevendo essa crônica. De certa forma, é sim. Quero compartilhar com vocês uma constatação bem mais agradável. Aconteceu essa semana de um turma da escola onde trabalho se revoltar contra o Ensino Remoto, modalidade adotada em todo o Brasil devido a crise causada pelo coranavirus.
Se você estar lendo esse texto alguns anos depois de 2020, busque pesquisar sobre a pandemia que paralisou o mundo em 2020. A discussão começou num grupo de whatsapp de estudantes revoltados por não terem a presença do professor em sala de aula, alegavam energeticamente que o Ensino Remoto não substituía o professor em sala de aula, orientando a turma.
Como eu estava no grupo onde a discussão acontecia, decidi fazer com que eles refletissem sobre algumas questões. Primeiro os questionei sobre o fato de muitos estudantes não respeitarem as orientações dos professores, uma vez que enquanto o professor tenta orientá-los para o desenvolvimento de uma atividade, muitos não prestam atenção e outros dizem claramente que não farão.
Quando a discussão começou a mostrar algumas fragilidades do sistema educacional, principalmente aquela em que cobrem todos os estudantes de direitos e todos os professores de deveres, a discussão parou. Então pedi que eles refletissem e que pudessem levar esse momento como um tempo de aprendizado. E quando o professor, após a pandemia, estiver em sala de aula eles possam dar valor às aulas e ao esforço do professor.
Não sei se isso acontecerá, os estudantes mudarem de comportamento por conta desse momento. Mas sei que uma coisa o Ensino Remoto escancara, que a tecnologia na educação sem o professor, é obsoleta. Nesse tempo de Ensino Remoto, estamos ensinando aos nativos digitais como fazer login no e-mail, porque o domínio das ferramentas digitais que muitos têm são somente de redes sociais e jogos eletrônicos.
Eu sei, muitos irão dizer que isso também é culpa do professor, que há muito tempo já deveríamos ter inseridos as ferramentas digitais na educação. Numa educação sem nenhum estrutura, eu respondo. Muitas escolas sequer tem internet para o professor. E quase nenhum equipamento eletrônico, e quando tem é um ou dois para 20 professores. Se a gente consegue usar um projetor da escola em um mês, é sorte.
O professor faz falta sim. Faz falta porque é o único profissional que compra seus próprios instrumentos de trabalho. Faz falta porque tira de seu salário o dinheiro para a água, o café, as cotas que a escola joga em nossas costas, porque o governo não cumpre com sua obrigação. O professor faz falta porque carrega nos ombros a responsabilidade da família de educar, ensinar a respeitar, a dar bom dia, a ser gentil.
Sim, o professor faz falta. Mas ninguém se importa quando no fim do mês falta ao professor o dinheiro, a dignidade e um ambiente respeitoso e saudável para se trabalhar.
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