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POR UM ELOGIO!


“Eu vi você em João Pessoa e fiquei louco para beijar sua boca” – ele escreveu num aplicativo de mensagem. E ficou por cinco minutos olhando fixo o celular, mas a mensagem não era visualizada. Decidiu ir ao banheiro. Olhou-se no espelho e viu-se bonito. Na verdade, era por se achar lindo que ele agia com ousadia. Sempre era muito direto e tinha todos os que queria. Ouviu o som do celular que avisava o recebimento de uma mensagem. Correu até a sala certo de que leria a resposta que estava esperando. Infelizmente não era a sua mensagem que tinha sido respondida. 


Sentiu-se frustrado por um instante. A frustação passou como um pensamento ruim. “Eu sou lindo”, pensou retomando sua confiança. De fato, ele era lindo. Alto, 1,85m, moreno com o corpo bem definido. Não era malhado, mas também não era magricela. Tinha suas curvas bem definidas. Peitoral bem desenhado e braços fortes. Suas pernas bem tornadas estavam sempre em evidências nas bermudas e calças bem apertadas que ele sempre usava. O que acabava valorizando seu bumbum de homem. É, ele era lindo e sabia disso. Apesar de ter completado 18 anos a pouco tempo já tinha experiência em ser irresistível. Nunca havia escutado um não quando o assunto era paquerar.


A mensagem do rapaz que ele estava a fim, era questão de tempo. E com certeza seria um sim. A mensagem que lhe fizera vir correndo do banheiro era de uma colega de escola. Eles haviam marcado de fazer um trabalho e já estava na hora. Como ele podia ter esquecido? Avisou que estava saindo de casa e que logo chegaria. Voltou ao banheiro e em seus lábios carnudo passou manteiga de cacau. Para todos ele dizia que o uso da manteiga era para que seus lábios não se ressecassem com o calor do sertão. No entanto, não era esse o objetivo principal de lambuzar toda a boca com aquele troço. Fazia isso para evidenciar ainda mais seus lábios carnudos. Adorava receber elogios. E sempre recebia: “Sua boca é linda”. “Você malha? Seu corpo é perfeito”. 


Não conseguiram fazer o trabalho. A tarde toda o assunto foi o rapaz de João Pessoa de quem ele queria beijar a boca. Sua amiga coou um café e tomaram lendo o capítulo de história para que pudessem fazer o resumo. Mas sua amiga só queria saber quem era esse tal rapaz. 

- Tá bom, Amanda, eu vou te mostrar. – ele falou como se estivesse sem vontade de o fazer. Quando na verdade já foi no intuito de mostrar para sua amiga confidente as fotos de seu “crush” no instagram. 

- Tem certeza, Gui, eu não quero ser intrometida. – ela respondeu com cinismo, pois ela sabia de tudo da vida de Guilherme. E de todas as demais pessoas de sua cidade. Moravam numa cidade pequena e davam de conta da vida de todo mundo. Talvez essa característica tenha sido importante para que eles fossem melhores amigos. Ela soube minutos depois de Guilherme fazer sexo, que ele teria perdido a virgindade e com quem. E ele soube em tempo real que ela aos 13 anos estava perdendo a virgindade com o professor de história. Ela transmitiu o momento para Guilherme em tempo real. 

- Você sabe tudo de minha vida, venha logo olhar o perfil dele – ela se espantou. Não era um homem lindo. Pelas fotos dava para ver que o tal pretendente tinha seu charme, mas estava bem abaixo do nível de Gui. Seu amigo sempre havia ficado com os mais lindos homens da cidade e região. Inclusive, com o dono da academia, que era casado e tinha dois filhos. - Que cara é essa, Amanda? – ela disfarçou seu espanto. Porém ele percebeu e tentou se explicar: - É que ele tem um charme!

Em meio a conversa com Amanda, e sem perceber, Guilherme começou a seguir o Rapaz no instagram. Em menos de um minuto o Rapaz o segue de volta. Amanda percebeu e fez carinha fofa para o amigo como indicando que o sentimento de Gui estava sendo correspondido. Gui, não gostou, pois nunca era ele quem seguia e viu aquela ação como fraqueza. Olhou para a amiga e a repreendeu pedindo que ela se concentrasse no trabalho. Ela por sua vez pediu que ele relaxasse, pois falaria com o professor de história e pediria mais tempo para entregar a tarefa. 

Ficaram conversando sobre a vida dos vizinhos a tarde toda e quando se deram conta já era noite. Já de volta a sua casa, Guilherme recebeu a tão esperada mensagem de seu pretende. Mas não gostou do que estava “escrito. “Eu não posso ficar com você” dizia a resposta. Algo dentro de Guilherme se quebrou. Ele nunca havia recebido um não “FILHO DA PUTA” ele gritou. – Olha a boca, menino – foi repreendido por sua mãe. Ele pediu desculpa e foi direto para o seu quarto. Respirou fundo e respondeu a mensagem querendo saber o porquê. O rapaz justificou que era correspondido. 

Parecia um boa justificativa. Não para Guilherme que era acostumado a ficar com quem todos sem se importar com nada. Já havia ficado com o Dono da academia, que era casado. Com o namorado de sua irmã, que era hetero. Não via, portanto, como uma justificativa plausível o fato do Rapaz ser comprometido. “Mas só um fica”, Guilherme insistiu. “Eu sou fiel”, o Rapaz lhe respondeu. Essa mensagem foi mais absurda que a anterior, aos olhos de Guilherme. “Como assim?”, ele pensava, “eu sou lindo!”. 

Esse pensamento traduzia seu comportamento. Sua visão de vida. Não era porque ele tinha apenas 18 anos. Esse pensamento de autoconfiança, assim ele definia, se dava pelo fato de sempre ter tido todos os elogios e amores que ele quis no decorrer de sua curta vida. Em seu perfil no instagram mais de 200 fotos postadas e nenhuma crítica. Aquele era um acontecimento inédito em sua vida. Ele não sabia lidar com aquela situação. A frustação que outrora passou tão depressa havia agora se instalado no seu ser. Ele então chorou. E continuou chorando. Depois xingou o rapaz: feio, imundo gordo. Não sabia como lidar com aquele NÃO. 

Num súbito de raiva bloqueou o rapaz em todas as suas redes sociais. Ele se recusava a se lembrar que um dia um não lhe teria sido dito. – Pronto! – indagou aliviado como se nada daquilo tivesse acontecido. Vestiu sua camisa e saiu para rua. Precisava respirar ar puro. Ou quem sabe receber um elogio para que sua autoestima se reestabelecesse. E como supunha, o elogio não demorou muito. Ele se aproximou do homem e agradeceu o elogio e foi para casa daquela criatura que decidira reestabelecer sua majestade. Os dois fizeram sexo vorazmente. Guilherme sabia que era desejado e fez com o seu súdito o que bem quis. 

No entanto, nada aconteceu como ele imaginou. Ao invés de ter sua autoestima reestabelecida como pensou, teve sua família destroçada. Ao chegar em casa pela manhã suas coisas estavam na calçada e Amanda a sua espera. Guilherme, aproximou-se de sua casa sem nada entender. Amanda em tom fúnebre avisou ao amigo: - sua mãe já sabe... E antes que ele respondesse a amiga, sua mãe saiu aos berros em sua direção:

- Como você foi capaz, Guilherme? Eu expulsei seu padrasto de casa porque você me disse que não aguentava mais ele te assediar. E... olha o que você me faz! Como você pôde dormir com ele? E não adianta negar, Amanda me mostrou o vídeo de vocês dois. Agora, me explica por quê?

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