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Não é coincidência

Hoje passei pelo pior constrangimento da minha vida quando cheguei cedo para trabalhar e pedir para meus colegas me respeitarem. Eles me olharam de um jeito diferente, tinham em seus rostos o olhar de quem queria falar, mas ninguém nada disse. Talvez se sentissem intimidados pela minha função na empresa, eu era sua chefe. No entanto, uma voz quebrou o silêncio e como simples frase mudou minha vida e minha maneira de pensar, ela disse: - você plantou o que estar querendo colher? Se plantou não precisa exigir que sua árvore dê frutos. 

Confesso não ter entendido absolutamente nada do que aquele moça, diga-se de passagem, corajosa quis dizer. A dona daquela frase que me deixou inquieta era na verdade uma funcionária novata e estava em período de experiência, talvez por isso não sabia da minha má fama de durona e impiedosa. Adjetivos que só depois de uma longa reflexão percebi que se encaixava perfeitamente em mim. O episódio passou como algo sem importância e na sala ninguém mais se atreveu falar, dei a reunião por encerrada. 

Sai da sala de reunião e fui à lanchonete tomar meu café matinal e na tevê um programa falar sobre colhermos o que plantamos, não entendi a coincidência, como poderia em um pequeno espaço de tempo eu ser exposta ao mesmo tema? Queria o universo me mandar uma mensagem? De repente tudo parecia convergir para que eu pensasse acerca da colheita que esperava no meu trabalho. Apesar desse momento de aparentemente loucura eu fiquei bem e voltei ao meu trabalho, e nada de anormal aconteceu durante todo o dia, o que me fez pensar que a frase e o programa de tevê foi uma coincidência isolada. 

Essa conclusão que fiz sobre o ocorrido no início do dia não me deixou tranquila e, por isso, passei todo o tempo pescando na memória o que havia plantado durante meus quinze anos naquela empresa, tempo em que fiz a empresa de vendas de automóveis ir de a décima coloca em vendas no Estado para a segunda colocação, e a exigência de respeito que eu fazia era exatamente porque eu queria que todos reconhecessem o meu valor e respeitassem meus longos anos de trabalho e sucesso. 

Mas agora o que martelava minha cabeça não era mais a concorrência ou entender de que forma eu poderia alavancar as vendas para elevar a minha empresa a número um em vendas no Estado. Mas simplesmente a frase que garota, que eu sequer sabia o nome, tinha me dito durante a reunião matinal. E por mais que eu tentasse me livrar daquele questionamento, mas minha memória trazia episódio em que me mostrava que eu estava querendo colher de meus funcionários o que nunca semeei.

Talvez com todo esse sucesso eu tenha sim fertilizado um terreno no mercado automobilístico e semeado sementes que me permitiam colher o respeito. E eu era respeitada no mercado sem nunca ter exigido esse respeito. Por que então eu tinha que exigi o respeito de meus funcionários e colegas de trabalho? A voz daquela jovem ecoava em minha cabeça "você plantou o que estar querendo colher? Se plantou não precisa exigir que sua árvore dê frutos. " e em grito eu respondi: - Não! Eu não plantei! - senti-me injusta e sai ás presas rumo ao setor de vendas. 

De repente pessoas saíram correndo, outras gritando e em pouco tempo todo a loja estava em desespero. Eu não entendia o que estava acontecendo, ninguém entendia, mas sabia que precisava correr para longe do setor de vendas e enquanto eles se afastavam eu me aproximava, e parecia que eu estava andando na contra mão do mundo, de tudo. O que não era surpreendente já que durante todo o dia eu estivera perturbada por acontecimento tão fútil. Ao me aproximar do setor de vendas fui barrada pela polícia, lá dentro acontecia algo horrível. 

Obedecendo às ordens de um policial me afastei do setor, mas a transparência do vidro me permitiu ver do que se tratava, a mulher que havia me dito a frase perturbadora estava agora na mira de uma arma. Um homem aparentemente transtornado segurava uma arma apontada para a cabeça dela enquanto puxava seus cabelos. Meu coração quase saiu de dentro de mim quando vi aquela cena, o mundo inteiro escureceu e só alguns minuto depois retornei já em uma ambulância rodeados por pessoas vestidas de brancos e câmeras. Eu tinha desmaiado. 

Olhei para a tevê na lanchonete em frente a minha empresa, a mesma tevê que me perturbara e vi a foto do homem que ameaçava a dona daquela frase. Tratava-se de um homem aparentemente jovem. Seguido da foto um som seco e rápido apareceu na tevê e saiu da loja ao mesma tempo. Todos correram querendo saber o que tinha acontecido. Os repórteres de amontoaram para filmar o ocorrido, a polícia invadiu a setor de vendas e o mundo novamente escureceu diante de meus olhos. 

Dessa vez o tempo em que eu passei na escuridão parece ter sido bem maior. Acordei em uma cama de hospital atordoada sem entender se tudo aquilo teria sido real ou se foi apenas um sonho. Não sabia o que pensar até ver meu esposo do meu lado segurando a minha mão.  A primeira notícia que recebi é que os desmaios estavam relacionados à minha gravidez, eu não sabia que estava grávida. Porém, essa informação não me parecia importante, eu queria saber qual teria sido o desfecho de toda a história com a moça da frase.

Ao perguntar sobre essa história, meu marido pediu para me acalmar e me disse que o homem que segurava a arma era o ex marido da Luzia, só agora eu vim saber o nome da moça, que não aceitava a separação e decidiu ameaçá-la. No entanto, as ameças fugiram do controle e gerou toda a tragédia. Comecei a chorar, meus olhos vazavam como torneiras e meu marido continuou contando a história. O tiro que eu tinha ouvido saiu da arma do ex marido, mas diferente do que pensei não foi Luzia quem morreu. 

Desesperado diante de toda a situação o agressor apontou a arma contra sua própria cabeça e se matou. Luzia foi amparada pela polícia e estava viva. Senti-me extremamente feliz com essa notícia, a minha salvadora estava viva. Ela estava viva e agora eu poderia agradecê-la por ter mudado minha vida. Eu agora tinha acordado para vida, para o plantio de coisas boas e, claro, para colheita do que plantava. 




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