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MOSCAS DO MACHISMO, por Nilson Rutizat

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Ela me contou. Despediu-se de toda vergonha, mágoa, nojo... e tudo mais que era sentimento envolto daquele maldito acontecimento e falou. Disse-me como se sentia o temor que tinha de ver voltar à tona tudo que um dia lhe fez frágil e vítima de um MACHISMO lancinante, que não tocou apenas sua pele, mas deixou cicatriz em sua alma. Marcou negativamente sua história. “Eu era prisioneira em minha própria casa, pois um cara me perseguia pelo simples motivo de achar que eu devia pertencer a ele”. Assim ela começou a me relatar sua história. Minha alma não se conteve e se partiu. Apenas hoje, um mês após ouvir dela essa história, é que tive coragem de juntar os cacos de minha alma, e escrever. Talvez eu não tenha a habilidade de trazer para vocês o quão cruel é essa história, mesmo assim não posso ser negligente.

            “Eu andava de ônibus e um homem roçou em mim seu pênis, fiquei ali parada amargando o sabor da vergonha e da incapacidade, pois nada podia fazer”. Ela continuou me contando, mas se conteve. Acredito que tais histórias abram nela a ferida que continua viva, e que está sendo acessa com a propagação do machismo por meio de políticos que governarão nosso país nos próximos anos. Ela ver refletida nas declarações desses homens sua fragilidade, que outrora lhe deixou imóvel diante de uma situação absurda como foi àquela do ônibus. Ela ver se replicar o pensamento machista e as agressões às minorias em nosso país, e a ferida em sua alma se abre, sangra.
             Como conter o sangramento?  Não pode. Infelizmente a ferida precisa ficar aberta, pois a dor e o sangue é o combustível da luta. Sim, ela vai lutar. Nunca mais ela se sentirá impotente diante de um homem, nunca mais ela se calará ou se esconderá com medo do machismo. Mas ela olha e ver um cenário montado todo contra ela, contra elas. E inevitavelmente o sentimento de fragilidade toma conta de seu ser, e as lágrimas escorrem pelo seu rosto, carregadas de tristes lembranças, cheias de mágoas e insatisfação.
            Eu poderia simplesmente dizer que essa história é um relato isolado, de um caso ocorrido isoladamente. Infelizmente, milhares de mulheres se reconhecerão nessas poucas linhas. Pelo mesmo motivo, muitas lágrimas já foram derramadas e muitas feridas ainda permanecem abertas. Algumas dessas feridas, como a dela, ainda sangram, outras apenas infeccionam, criam vermes, pois as moscas do machismo continuam a pôr larvas.


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