Ela me contou.
Despediu-se de toda vergonha, mágoa, nojo... e tudo mais que era sentimento
envolto daquele maldito acontecimento e falou. Disse-me como se sentia o temor
que tinha de ver voltar à tona tudo que um dia lhe fez frágil e vítima de um
MACHISMO lancinante, que não tocou apenas sua pele, mas deixou cicatriz em sua
alma. Marcou negativamente sua história. “Eu era prisioneira em minha própria
casa, pois um cara me perseguia pelo simples motivo de achar que eu devia
pertencer a ele”. Assim ela começou a me relatar sua história. Minha alma não
se conteve e se partiu. Apenas hoje, um mês após ouvir dela essa história, é
que tive coragem de juntar os cacos de minha alma, e escrever. Talvez eu não
tenha a habilidade de trazer para vocês o quão cruel é essa história, mesmo
assim não posso ser negligente.
“Eu andava de ônibus e um homem roçou
em mim seu pênis, fiquei ali parada amargando o sabor da vergonha e da
incapacidade, pois nada podia fazer”. Ela continuou me contando, mas se
conteve. Acredito que tais histórias abram nela a ferida que continua viva, e
que está sendo acessa com a propagação do machismo por meio de políticos que
governarão nosso país nos próximos anos. Ela ver refletida nas declarações
desses homens sua fragilidade, que outrora lhe deixou imóvel diante de uma
situação absurda como foi àquela do ônibus. Ela ver se replicar o pensamento
machista e as agressões às minorias em nosso país, e a ferida em sua alma se
abre, sangra.
Como conter o sangramento? Não pode. Infelizmente a ferida precisa ficar
aberta, pois a dor e o sangue é o combustível da luta. Sim, ela vai lutar.
Nunca mais ela se sentirá impotente diante de um homem, nunca mais ela se
calará ou se esconderá com medo do machismo. Mas ela olha e ver um cenário
montado todo contra ela, contra elas. E inevitavelmente o sentimento de
fragilidade toma conta de seu ser, e as lágrimas escorrem pelo seu rosto,
carregadas de tristes lembranças, cheias de mágoas e insatisfação.
Eu
poderia simplesmente dizer que essa história é um relato isolado, de um caso
ocorrido isoladamente. Infelizmente, milhares de mulheres se reconhecerão
nessas poucas linhas. Pelo mesmo motivo, muitas lágrimas já foram derramadas e
muitas feridas ainda permanecem abertas. Algumas dessas feridas, como a dela,
ainda sangram, outras apenas infeccionam, criam vermes, pois as moscas do
machismo continuam a pôr larvas.
Comentários
Postar um comentário