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A que ponto chegamos, por Zenilda Ribeiro da Silva

Diante do lamentável fato de ontem, o atentado ao candidato à presidência Jair Bolsonaro, quero, inicialmente, externar o meu total repúdio a esta e outras atitudes, sobre as quais ainda discorrei nesta minha fala, mas não poderia deixar de também chamar a atenção para algumas questões que merecem e devem estar em pauta nas discussões.
Constatamos que nossa sociedade está doente, agonizando, para ser mais enfática. Vivemos um momento de total perda dos valores e do senso de humanidade e respeito. A empatia deu lugar a apatia e intolerância.  Cada um quer se impor a todo e qualquer custo. Ninguém aceita ser contrariado. Não se tem a menor capacidade de lutar no campo das ideias e dos argumentos. Prevalecem a força bruta, o matar ou morrer. A vida parece perder o valor num emaranhado de confusões e armações.
Muitas pessoas, por possuírem um perfil no ciberespaço, sentem-se empoderadas em demasia e passam a assumir comportamentos intolerantes, disseminar discursos de ódio, mas isolam-se quando são replicadas, não aceitam o posicionamento diferente do seu. O EU parece ter crescido demais com o advento das TIDCS e das redes sociais e as instituições FAMÍLIA-ESCOLA-SOCIEDADE estão falhando. O reflexo disso é gente comemorando, ironizando e brincando com o incêndio que devastou o Museu Nacional. Fazendo piadas com o atentado ao candidato. Atitudes de mentes que estão apenas na superfície, não veem a profundidade das coisas. Relações sociais e amorosas líquidas, nada adquire solidez, constância. Tudo está a um clique e ao mesmo tempo vivemos distâncias quilométricas em relação ao nosso próximo, mesmo este próximo estando sob o mesmo teto.
O nosso País vive em um ESTADO DE EXCEÇÃO, pois quando nos encontramos num cenário em que para um determinado cidadão ou grupo político, indícios e presunção de culpa viram provas e provas materiais (mala de dinheiro dentre outras) não servem como provas, ferem a democracia, atentam contra a dignidade e os direitos sociais adquiridos, favorecendo a existência de um clima de revolta, insatisfação e descrença, especialmente nas instituições que deveriam resguardar o direito dos cidadãos. Esta sensação de desconfiança, agregada às instabilidades emocionais e sociais dos indivíduos, mais a disseminação de discursos carregados de ódio e preconceitos  acabam por produzir comportamentos extremados, sujeitos incomodados e querendo buscar solução com as próprias mãos.
Mesmo sem querer tirar do ocorrido a sua real importância, fico a observar que no início da semana, os extremistas da direita menosprezavam a questão do incêndio no Museu Nacional. O candidato, inclusive, afirmou que iria extinguir o ministério da cultura. Voltando um pouco mais no tempo, o mesmo sujeito que ontem foi vítima do atentado, quando do processo de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff disse em entrevista “Espero que o mandato dela acabe hoje, infartada ou com câncer, ou de qualquer maneira”. Recentemente a mesma figura emblemática ironiza em comício fazendo gestos de estar com uma arma e diz que irá “fuzilar a petralha do Acre”. Incentivo claro à barbárie em uma sociedade que está cada dia mais despida da tolerância e do amor. Não estou querendo repetir o provérbio bíblico “Quem semeia a maldade colhe a desgraça e será castigado pelo seu próprio ódio” (Provérbios, 22, 08), mas precisamos pensar nessa questão.
Quando do fuzilamento de  Marielle Franco, caso que continua sem punição aos culpados, (diferentemente do caso de ontem, cujo agressor já está enjaulado) muitos foram os posicionamentos em redes sociais dos radicais de direita chamando toda aquela repercussão de “mimimi”. Diziam os mais revoltados que ninguém se compadecia dos policiais que morriam diariamente nos confrontos com bandidos. Todo e qualquer atentado à vida é crime, toda violência precisa ser banida, mas não há como comparar as coisas. Policiais morrem em confronto com bandidos armados devido aos caos na segurança que se estabeleceu no país e este caos tem raízes mais profundas que não são atacadas de fato. Isso é triste, é revoltante. Mas a morte de Marielle tem outras questões: ela não estava em confronto com os  bandidos do tráfico, não portava arma. Sua arma era o seu discurso e a sua garra de Mulher que lutava contra as milícias que se estabeleciam nas favelas e outros crimes. Mas no caso do seu assassinato até mesmo uma desembargadora pronunciou-se em rede social dizendo que ela foi vítima do tráfico por ser aliada a traficantes e debochou do caso. Inaceitável. Fakes News foram criadas tentando denegrir a imagem da vítima, o que para muita gente não teve a menor importância. A que ponto chegamos enquanto raça humana.
Quando a Dona Marisa Letícia foi internada, um médico ridicularizou do caso e expôs fotos da tomografia, comemorando a sua morte iminente. Ninguém pensou na dor que passava o esposo, os filhos, mas muitos brincaram com a situação. Qual foi a resposta de Lula? Pediu que a Santa Casa não punisse o médico leviano com a demissão, mas de outra maneira. Grandeza ímpar de ser humano.
Ataques à caravana do presidente Lula, ao acampamento do PT em Curitiba, a uma a uma militante do PSol, a professores que lutam por seus direitos, a professores em sala de aula que lutam por um país melhor, a diretores de escolas, à natureza (tragédia de Mariana-MG) e agora a um candidato à presidência. Mas apenas este último é visto como um ataque à democracia. A democracia já foi atacada, esfaqueada, mutilada. Tudo sintomas de uma sociedade que está desequilibrada emocionalmente, psicologicamente, espiritualmente, eticamente, juridicamente, politicamente e assim por diante.
Em meio a tudo isso, os produtores de Fakes voltam a atacar e já fizeram montagem com a foto do acusado com a turma do PT, descaradamente já até deram para ele o cargo de “assessor” de Dilma Rousseff, candidata que lidera as pesquisas para o senado em Minas Gerais. Menos, bem menos, gente! Pensem bem: quem realmente ganharia com a saída de cena de Jair Bolsonaro? Jamais seria a esquerda, mas a própria direita, pois o PT luta é contra as forças jurídicas do País que cercearam de Lula o direito de concorrer à presidência e fará até o impossível para derrubar Haddad e Manuela, num “grande acordo, com o Supremo, com tudo”, só para não esquecerem. Ou vocês não se recordam de que na nossa história política Fakes e armações sempre fizeram parte do cardápio? Não que eu esteja duvidando do ocorrido, mas tem muitas coisas que estão um tanto obscuras.
Para finalizar, só alguns pedidos. Menos ironia e mais reflexão. Menos apelo publicitário e mais ação e diálogo transparente. Menos ódio e mais amor. Menos armas letais e mais armas mentais/livros.
Zenilda Ribeiro da Silva
07/09/2018.

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